ACEESP - Associação dos Cronistas Esportivos

ACEESP DE LUTO PELA MORTE DE TONICO DUARTE

A Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo decreta luto pela morte do jornalista Antônio Carlos Barneto Soares, mais conhecido como Tonico Duarte, um dos mais respeitados profissionais da imprensa brasileira. Natural de Santos, Tonico iria completar 70 anos no próximo dia 27. Reconhecido pelos colegas como um profissional combativo, inteligente e sobretudo criativo, trilhou uma carreira de sucesso com passagens marcantes pela TV Globo, revista Placar, Estadão e o icônico Jornal da República. A ACEESP se solidariza com amigos e familiares neste momento de profunda tristeza.

A lembrança de um cara meio louco, meio gênio

Por Marisa Viera da Costa (*)

Tonico Duarte entrou como um furacão na velha redação do Estadão, quando ela ainda funcionava no quinto andar do prédio da Major Quedinho. Estranhei aquele moleque de cabelos crespos e longos, especialmente pela sua desinibição. Chegou, cumprimentou todo mundo como se já nos conhecesse há anos. E foi especialmente simpático comigo, a única mulher da editoria de esportes.

Nosso editor, o Luiz Carlos Ramos, colocou o garoto para cobrir a Portuguesa. Para minha surpresa, Tonico inverteu a lógica e voou na cobertura de um clube que habitualmente não costumava render boas pautas. Pegava ganchos onde ninguém enxergava e desenvolvia textos pra lá de criativos.

Desenvolvemos uma amizade forte dentro e fora da redação. Voltávamos juntos de ônibus. De vez em quando, ele aparecia em casa na hora do almoço em busca de carona, e se o Luiz não estivesse em casa, ele ajudava na cozinha ou dava banho nos meninos. Tonico era da casa, da família.

Em 1978, às vésperas da Copa que ele viria a cobrir na Argentina, produziu um dos textos mais lindos que eu já li. Com classe, talento e muita cultura, a matéria passeava por Piazzolla e bandoneons, Gardel e Evita, essas coisas que explicam a alma porteña. Tenho o recorte guardado até hoje… só preciso lembrar onde.

Nos anos 80, já altamente conceituado no meio, trocou o Estadão pela aventura do Jornal da República, a convite de Mino Carta. O resto da história todo mundo sabe… lamentavelmente, o jornal não decolou. Mas o fracasso editorial não abalou a moral de Tonico. Logo ele foi para a TV Globo, como editor. Cobriu a Olimpíada de Seul e voltou para o Estadão como editor de esportes e escalou como seus subeditores eu e Adelto Goncalves.

Tinha ideias malucas, tipo criar tipo editar uma matéria sobre polo aquático feminino inspirada na Dança das Valquírias. Outra vez, numa matéria sobre o atacante Viola que tinha se dado mal em alguma situação, deu como título: Atacante coloca a viola no saco.

Nem todo mundo aprovava, mas ele não ligava. Tinha a autoconfiança dos caras que estão acima da média. Meio gênio, meio louco. Diferente.

Não lembro por que saiu outra vez do Estadão. Mas firmou-se na Globo. Seu último trabalho lá foi como editor da coluna do Nelson Motta para o Jornal da Globo. Nada mais apropriado. Afinal, além do futebol, Tonico amava música. Era eclético, mas tinha uma admiração extraordinária por João Gilberto. Tudo a ver!

Nunca vi Tonico reclamar. Sempre ria de tudo, até dele mesmo.

Fui ao seu primeiro casamento, em Santos, com Angela, mãe da Joana. Depois, casou-se com Gloriete Treviso, que era repórter da Globo e lhe deu Bruno e Guilherme. Nos últimos anos, sua companheira era Thais, mulher forte e que está segurando toda essa barra.

Vi Tonico pela última vez num encontro dos amigos do Estadão. Já não parecia o mesmo. Gordo e um pouco inibido.

Conversamos e choramos. Juntos pela última vez.

(*) Marisa Viera da Costa é jornalista e trabalhou mais de uma década com Tonico Duarte no jornal O Estado de S.Paulo