ACEESP - Associação dos Cronistas Esportivos

ACEESP DE LUTO PELA MORTE DE VICENTE DE AQUINO

A Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo decreta luto pela morte do jornalista Vicente de Aquino, um dos mais respeitados profissionais da imprensa paulista e brasileira. Vicente faleceu na madrugada deste sábado (28) no Hospital de Geral de Guarulhos, onde estava internado para tratar de um câncer no pâncreas. Reconhecido pelos colegas como um profissional atuante, inteligente e sobretudo criativo, trilhou uma carreira de sucesso com passagens marcantes pela Folha da Tarde, do grupo Folha de S. Paulo, pelos sites Terra e Mais. Ele também foi editor-chefe do Metrô News e da Folha Metropolitana e estava como assessor de imprensa da Prefeitura de Guarulhos, na área da Saúde. A ACEESP se solidariza com amigos e familiares neste momento de profunda tristeza.

Por Dani Blashkauer (*)

Era permitido fumar dentro do trabalho. Ar condicionado não existia naquele ambiente. Mentira. Nas salas do diretor e onde ficavam os Macintoshs o clima era fresco. Para os demais, não havia nem cadeiras para todas as mesas.

O cheiro de cigarro, desodorante, perfume, mofo e ferrugem transformava aqueles 600 metros quadrados em um ambiente propício para produzir salsicha ou algum alimento multiprocessado qualquer. No caso era um jornal.

Foi nesse ambiente que fui produzido como jornalista. E meu primeiro editor foi Vicente de Aquino.

Você vai trabalhar três finais de semana por mês, vai ganhar um salário mínimo e trabalhar o dia inteiro. Você quer mesmo assim?

Quantos anos você tem? 18?? Eu tenho 20 só de profissão!

Vicentão dominava a escrita, mas seu nome nunca entrou na lista dos jornalistas mais influentes do país. Foi daqueles craques que a “grande mídia” só valorizará anos depois de sua morte. Alternava dias de grande humor com grandes ressacas. Às vezes tudo no mesmo dia. Ia do berro, do esporro a tapas nas costas e elogios olho no olho. Ia do lado bedel a professor em questão de minutos. Sempre acariciando a barriga e penteando o bigode.

Era anos 90. Quem estava lá cresceu nos anos 70 e 80 onde Sheilas Carvalhos entravam com roupas cavadas na redação. Se você reclamasse da fumaça de cigarro ia ter dois trabalhos: reclamar e parar de reclamar. Ouvir piadas ou comentários jocosos contra judeus, negros, caipiras, moradores da ZN, mulheres, homossexuais ou redatores lentos era tão normal quanto tomar uma cerveja depois do expediente. Compliance, algoritmo e selfie seriam neologismos de filmes de ficção científica.

Não tenho uma foto da redação desta época. Era anos 90. Só tirávamos fotos em viagens torcendo para o filme não queimar.

Se não tenho fotos com ele só mostra que realmente era anos 90. Assim, vai em formato desse texto a ajuda a incentivo que ele me deu. Foi meu chefe e anos depois, conforme ele previu, o papel se inverteu. E acredite: o cara era muito ruim de previsões. Mas isso é outra história. No momento, vai em paz, Vicentão! E muito obrigado!

(*) Dani Blashkauer, amigo de Vicente é jornalista com passagens pela Folha da Tarde, Lance, Folha de São Paulo e sites como G1, Terra e UOL.