ACEESP - Associação dos Cronistas Esportivos
Por Luís Carlos Quartarollo (*)
Foi num dia de novembro de 2023, quando íamos começar a gravar o programa” Futebol em Rede”, que o Fábio Seródio me avisou que não podia ir. Tinha perdido os movimentos da mão esquerda e iria fazer exames minuciosos no Albert Einstein. Ele achava que o sintoma ainda era resquício da Covid ou coisa que o valha. Ali a sua vida mudou. A dele, da sua família e dos seus amigos. O diagnóstico médico constatou algo bem mais grave: um tumor no cérebro, que teria que ser operado rapidamente.
Lembro bem do grande Doutor Pagura falando com ele no leito do hospital, explicando como seria a cirurgia. Eu e minha esposa fomos dar um apoio à Cristina, esposa do Seródio, e para a filha Aline, que tem o mesmo nome de uma das minhas filhas. Ele brincava dizendo que eu copiei o nome da filha dele, mas na verdade a minha nasceu 15 anos antes da Aline Seródio. Ele também dizia a todo mundo que não foi convidado para a festa de 15 anos da minha filha e ríamos muito com isso. Mas é que a festa da minha filha aconteceu num dia 12 de dezembro, justamente o dia em que a Aline dele estava nascendo. Não podia ir mesmo, mas você foi convidado, sim, meu caro amigo. Eu é que devia ter ficado bravo porque você não foi rsrsrsrs.
Assim era nossa relação desde que o conheci pelos corredores da Jovem Pan, abrindo espaço naquela ótima equipe de esportes da rádio e se tornando um dos integrantes mais importantes do time. O jornalista Seródio era detalhista, chato, mal humorado, honesto, do bem e ao mesmo tempo muito engraçado. Wanderley Nogueira, Flávio Prado e Rogério Assis brincavam com ele o tempo todo e ele ria junto com a gente. E, de vez em quando, tinha grandes tiradas contra a gente também.
Ele saiu da Jovem Pan antes de mim, mas a amizade nunca esfriou. Sempre nos encontrávamos para um papo, um café, um almoço, uma pizza em família. Contávamos as mesmas histórias de sempre, ríamos como sempre e fazíamos projetos mais de vida do que de futuro. Foi assim que através do Vander Luiz e da Sig Eikmeier, todos egressos da velha Jovem Pan, é que nasceu o “Futebol em Rede”, o programa que morre agora com o Seródio.
Houve um momento, por volta de fevereiro, que Seródio estava se recuperando bem e ele queria gravar novamente o programa e até os médicos disseram: “Gravem, será uma boa terapia ocupacional”. Eu fiz por ele, mas sinceramente não me sentia bem por parecer que estava explorando o momento ruim de um companheiro. Fui convencido por ele a gravar de novo e foi o que fizemos por um tempo. Ele às vezes passava mal durante o programa e a gente notava que não ia dar. Infelizmente, de novembro até o último dia 15 de agosto, Seródio conviveu com um câncer avassalador. Havia metástase e foram detectados outros tumores. O último no joelho direito, o mesmo joelho que já o incomodava há tanto tempo.
Seródio gostava de viajar. Visitou vários países por conta da nossa profissão e fez giros pela Europa com a família. Em toda grande cidade fazia questão de visitar estádios e carregava a Cris e Aline junto. Elas acabaram tomando gosto pelos estádios também. Na última visita que fiz no hospital, ele estava fazendo planos de ir para a Disney no fim desse ano. No ano passado tinha tudo programado, mas a descoberta do câncer adiou a viagem por tempo indeterminado. Ele gostava da Disney como adultos gostam como se fossem crianças.
Tinha ido várias vezes à Disney. Mas já sabíamos que eram os seus últimos dias. Ele também devia saber. Pediu pra ir para sua casa, foi atendido e se despediu da vida ao lado daqueles que mais o amaram e daqueles que mais amava. Viajou sem viajar para Disney uma última vez, mas tenho certeza de que o céu é melhor que a Disney. Aproveite bem o Parque de Diversão de Deus, mas você tem direito de reclamar com Ele…
Foi embora cedo demais, com apenas 59 anos de idade. Mas teve uma vida que deve ser festejada. Missão cumprida com méritos. Foi sepultado com as bandeiras do São Paulo e do Flamengo, os seus times de coração. Algo que nunca misturou com seu trabalho nem mesmo quando era setorista e depois Assessor de Imprensa do Corinthians.
Adeus, Seródio! Estamos com Saudades.
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(*) Luís Carlos Quartarollo é sócio da ACEESP e foi companheiro de trabalho de Fábio Seródio por mais de 20 anos