ACEESP - Associação dos Cronistas Esportivos

FINAL DA COPA DO BRASIL MOSTRA COMO É POSSÍVEL MELHORAR O “PROTOCOLO DE IMPRENSA” NOS JOGOS DE FUTEBOL

ZONA MISTA (Foto: Ana Marina Maioli)

A decisão da Copa do Brasil 2023, domingo (23/9), no Estádio Cícero Pompeu de Toledo, Morumbi, ressaltou a importância da atuação da imprensa na cobertura jornalística dos grandes eventos esportivos nacionais. Mais do que isso, comprovou que a crônica esportiva é parte integrante do espetáculo que cerca uma final de campeonato dessa dimensão, a despeito de clubes, federações e torcedores, em menor ou maior medida, muitas vezes imporem barreiras ao trabalho dos jornalistas. Felizmente, no caso específico desta grande decisão de Copa do Brasil, muitos paradigmas foram deixados de lado e o tal “protocolo de imprensa”, sempre muito rigoroso e limitante, adequou-se ao tamanho do jogo, de modo a permitir avanços que não podem mais ser desconsiderados daqui para frente. Nunca é demais lembrar que muitas limitações impostas ao trabalho da imprensa hoje vigentes são herança, ainda, do tempo em que a pandemia da Covid-19 assombrava o mundo todo e impunha padrões sanitários que ditavam as regras de convivência nas relações humanas. Com a pandemia superada, muitas das medidas impostas à época não fazem mais o menor sentido e afrontam contra a histórica atuação do jornalismo esportivo do País. Já se foi o tempo em que era até razoável proibir a presença de jornalistas na cobertura diárias dos treinos dos grandes clubes de futebol, limitar a presença de repórteres dentro de campo, impedir entrevistas que não fossem nas tais coletivas, que também hoje estão precisando de uma reflexão de todos os atores do futebol profissional brasileiro. Será que o modelo vigente é necessário – e útil? Será que ele atende aos interesses da opinião pública, para quem a imprensa efetivamente trabalha?

Pois a final da Copa do Brasil ajudou a derrubar muitos desses fantasmas e a mostrar que o jornalismo não é inimigo do futebol, como muitos pensam. E aqui falamos do jornalismo profissional, sério, comprometido com a ética, e que, lamentavelmente, muitas vezes tem sido confundido indistintamente com a tal atividade moderna da chamada “produção de conteúdo”, que coloca no mesmo balaio profissionais em busca de uma adequação à uma efetiva transformação de mercado de trabalho e aventureiros de plantão, que se disfarçam, ou que se fantasiam, de jornalistas, mas atuam como torcedores. Nada contra os influencers, posto que eles são parte integrante da história contemporânea da comunicação. Mas é preciso, sim, saber separar uma coisa da outra. Este é o desafio que ainda falta ocupar a todos nós que militamos no mundo das comunicações.

Nessa constatação de que algo foi diferente neste domingo, no Morumbi, é preciso destacar que, como poucas vezes se viu, houve um trabalho de planejamento e organização prévio que envolveu a CBF, os clubes, as empresas detentoras dos direitos de transmissão, os organizadores da partida, as associações estaduais e nacional de cronistas. Algo que deveria ser a regra, como é na Copa do Mundo por exemplo, mas que aqui ainda é exceção. Com isso foi possível ampliar consideravelmente o limite do quantitativo-padrão dos profissionais de imprensa em serviço, sem que em nada isso tivesse prejudicado o jogo, o resultado, a festa de quem ganhou e a frustração de quem perdeu. Mais jornalistas trabalhando só permitiu que as mensagens da grande decisão chegassem a maiores parcelas da opinião pública em todo o País. A renda de mais de R$ 24 milhões reafirmou a certeza de que a imprensa não prejudica o borderô das arrecadações. Jornalista credenciado não tira lugar de público pagante! Incrível pensar que essa já foi uma tese defendida por alguns dirigentes esportivos, e ela precisa ser sempre rechaçada. Não há, entre os personagens que estão dentro de um estádio de futebol, ninguém mais “controlado” do que os jornalistas, que precisam provar vínculo empregatício com algum veículo de comunicação, estar ligado a alguma associação de classe, além de passar por um credenciamento que envolve vários filtros impostos pelas entidades organizadoras dos campeonatos e pelos clubes. Não estamos ali a passeio ou diversão. Esse é o nosso trabalho.

Dito isso, cabe um elogio ao departamento de Comunicação da CBF e ao departamento de comunicação do São Paulo FC, que souberam entender a grandeza deste jogo e se permitiram ir além da letra fria do que está posto no tal protocolo de imprensa do campeonato, sem ferir sua essência, mas admitindo que é possível fazer melhor do que é considerado o normal. Só para se ter uma ideia foram credenciados, de acordo com a ARFOC, 100 profissionais de imagem (incluindo fotógrafos e cinegrafistas). O protocolo prevê apenas 40 posições em campo em qualquer jogo. Também houve flexibilização para o número de repórteres de rádio dentro do gramado – das 24 vagas padrão, credenciaram-se 30 profissionais. As emissoras detentoras de direitos de transmissão levaram a campo várias equipes completas de repórteres, comentaristas, narradores, analistas além de integrantes das equipes técnicas. Com zelo, cuidado, e boa vontade, todos puderam trabalhar bem, respeitando as regras, os espaços físicos delimitados e o tal protocolo. Ao final, em dia de festa de campeão, o São Paulo permitiu até que os jogadores dessem entrevista dentro de campo, o que não acontecia há muitos anos. Ninguém se sentiu prejudicado por isso. Seja no gramado, nas áreas comuns do estádio, nas ruas, na zona mista e na sala de coletivas, todos puderam fazer o seu trabalho.

É sinal de que é possível. Que esta final de Copa do Brasil seja um divisor de águas nas relações do futebol com a crônica esportiva. Que as conquistas obtidas agora, muitas delas práticas corriqueiras do passado, possam balizar um futuro melhor para todos. Responsável pelo credenciamento da ampla maioria dos cronistas esportivos do Estado de São Paulo, num trabalho que se repete há mais de oito décadas, a ACEESP tem a certeza de que fez a sua parte e renova seu compromisso em andar sempre ao lado de todos seus associados em busca das melhores condições de trabalho nos campos esportivos do estado, do Brasil e do mundo – ainda que esta não seja uma caminhada livre de obstáculos estruturais e dificuldades de ocasião.

Por Nelson Nunes (Presidente) e Ana Marina Maioli (Assessora de Imprensa).

CAMPO (Foto: Ana Marina Maioli)
TRIBUNA DE IMPRENSA (Foto: Ana Marina Maioli)